Um dos slogans preferidos dos neoliberais é o “não existe almoço grátis”.
É uma sentença maldita que carrega tantas ficções: a de que cada indivíduo é seu ponto de partida; a de que cada um é responsável pelo seu fracasso e que almoçar ou não almoçar é uma questão de competência individual.
Esse mundo de todos contra todos é um mundo cheio de dispositivos para que a gente se convença de que ou somos mesmo derrotados pelo outro (e aí eu só posso desejar o extermínio desse outro que me ameaça) ou que devemos seguir caçadores de competências, trabalhar durante mais horas, esquecer das práticas que nos fazem viver juntos e bem.
Eles precisam nos fazer acreditar que a interdependência é um signo de “fraqueza” e não uma tecnologia política composta de gestos tão cotidianos quanto revolucionários.
A vida não fascista é um experimento urgente – nos demanda novas cartografias e experiências sensíveis.
“Conspirar quer dizer respirar junto e é disso que somos acusados” (Guattari).
Insistimos em tramar experimentações coletivas, abertas e indeterminadas. Existe almoço grátis, sim. E por trás dele um circuito de relações, luta, vida cotidiana, implicações, cuidado e conspirações.
Após 7 encontros entre pessoas que responderam a uma convocatória lançada nas redes e ruas fomos para uma praça executar os protótipos imaginados.
Em tempos de assombro diante da banalidade do mal e contra a melancolia paralisante, ousar reaprender coletivamente a criar e sustentar os finos laços e as pequenas ações que dão suporte aos modos de vida que desejamos proliferar, tem efeitos inesperados e perigosos.
Reaprender a fazer comum e praticar invenções democráticas, faz da potência de luta um vírus de alegria contagiante. Os poderes de morte sabem dessa virtude epidêmica da alegria que emerge da capacidade em ato de fazer Comum. Por isso investem toda sua força em disseminar a tristeza, o medo e a desconfiança no outro. Eles querem sobretudo destruir nossa capacidade de ação e imaginação coletivas.
Investigar e praticar modos de vida não-fascista, implica em habitarmos uma outra cidade, implica em ativar um outro corpo, outras sensibilidades, outros saberes. Como desarmar os infinitos dispositivos de produção de concorrência, violência, medo, isolamento e autoritarismo que atravessam nosso cotidiano? Como criar caixas de ressonância da capacidade imaginativa de inventar coletivamente soluções, situadas e corporificadas, a esse problema?
“Experimentos para a revolta que vem” são inventados não porque seja possível antecipar e programar a revolta. A revolta é certa diante da escalada da opressão. O seu momento, porém, é da ordem do acontecimento, logo inesperado.
Os experimentos dedicam-se a investigar e dar consistência aos diversos mundos que já estão acontecendo diante da guerra declarada contra nós. Infraestruturar o que dá consistência àquilo que atravessa a revolta: o mundo que germina antes e o mundo que nasce no dia seguinte e a cada dia.
Um super obrigado a todxs que se arriscaram conosco!