Sobre

O Projeto “Laboratório do Comum Campos Elíseos: corpos, território e tecnopolíticas do fazer-bairro” se caracteriza como uma plataforma de ações integradas sob a perspectiva de experimentação de um Laboratório de Inovação Social voltado para práticas de fazer cidade. Ele nasce como um projeto de extensão-pesquisa do Pimentalab na EFLCH/Unifesp e com o apoio da LAVITS e Fundação Ford.

Interessa-nos investigar e criar, conjuntamente aos diversos atores que compõe esse território, saberes e práticas sociais que contribuam para um melhor entendimento das dinâmicas sociais, políticas, culturais e econômicas que atravessam essa região central da cidade e seus conflitos, bem como desenvolver coletivamente ações de promoção e defesa dos direitos das populações mais vulneráveis da região.

No plano epistemológico-ético-político este modo de conhecer e agir se realiza através de um saber-fazer habitar, expressão de uma ciência cidadã e situada, em oposição aos modos assimétricos da relação saber-poder governar. Localiza-se portanto em um diagnóstico generalizado e interdisciplinar de crise dos modos tradicionais do planejamento urbano (Miraftab, 2016) assim como dos canais tradicionais de participação democrática.

Objetivamos criar espaços e práticas de conhecimento que tenham como princípios ativos uma política do cuidado e da reprodução da vida, que investiguem práticas associativas e modos de fazer mediante o desenvolvimento de tecnologias sociais e arranjos sociotécnicos experimentais (protótipos) voltados à inovação socioambiental democrática (justiça social e ambiental).

Atuamos num contexto de crescente mediação das tecnologias digitais de comunicação em novas composições entre o mundo físico e informacional. Este território e suas populações situam-se na encruzilhada da intensificação de práticas securitárias e de militarização do espaço urbano; de forças de especulação imobiliária e remoção de moradores; de novos arranjos corporativos e estatais que disputam os sentidos da vida e da experiência urbana no centro de São Paulo. Todos estes atores vem investindo em arranjos sociotécnicos de organização do urbano: novas tecnologias de vigilância e militarização, plataformas participativas criadas por empresas, novas startups que pretendem atuar na regulação do mercado imobiliário, assim como as renovadas composições entre gestão pública e interesses privados interessadas em produzir valor no território desde uma proposta moderna de cidade.

De maneira alternativa às propostas de cidades inteligentes (smart cities), expressão da política cibernética do comando-controle, investigamos e acompanhamos um conjunto de práticas de inovação democrática em que cidadãos e coletivos criam outros saberes e modos de existência orientados pela promoção e sustentação dos Comuns urbanos, expressão renovada das lutas contemporâneas que transbordam da revindicação pelo direito à cidade para práticas e reflexões sobre o próprio fazer cidade.

Problema

Numa primeira dimensão, interessa-nos investigar e atuar sobre as dinâmicas de produção do espaço urbano, as sociabilidades e subjetividades que compoem esse território. Diante da formas renovadas de produção e reprodução de assimetrias sociais num contexto de crescente militarização e gentrificação de regiões específicas, quais as formas de produção de valor e expropriação, os modos de resistência e criação? Tais processos relacionam-se também ao que denominados “regime tecnopolítico”, que se efetiva através da propagação e reticulação das tecnologias de comunicação e gestão socioespacial aplicadas sobre um território (nos moldes das chamadas “cidades inteligentes”), e se inscrevem também no desenho das infraestruturas que dão suporte à vida nas cidades.

Diante desse novo cenário, quais seriam os arranjos sociotécnicos capazes de fazer prosperar a produção do comum? Nossa hipótese é que certos arranjos sociotécnicos fortalecem determinadas configurações de mundo, com uma economia política própria, uma economia libidinal, um modo de subjetivação e reprodução do cotidiano.

No interior desses dinâmicas acompanhamos iniciativas e organizações que lutam para criar modos de existência e de produção alternativa do território, orientadas por uma “política do Comum”, presente em certas formas de “fazer bairro”. Investigar, acompanhar, desenvolver e promover “tecnopolíticas do comum” exige um trabalho de co-investigação e extensão que mobilize diversos saberes e práticas sociais, dando forma a emergência de novas comunidades epistêmicas e políticas.

O segundo eixo de ações/problemas do projeto diz respeito à pesquisa e desenvolvimento metodológico de um laboratório cidadão capaz de colocar em prática esse outro modo de conhecer e fazer ciência. Qual o desenho (design) desse laboratório? Nesta dimensão interessa-nos investigar, experimentar e sistematizar metodologias de pesquisa-ação (aplicada e situada) que se efetivem mediante a construção de protótipos (arranjos sociotécnicos alternativos) e comunidades de prática, que promovam ou pelo menos indiquem alternativas de fortalecimento dos direitos de comunidades.

Objetivo Geral

  • Co-investigar e desenvolver de forma colaborativa um laboratório situado e implicado de inovação social através da criação de arranjos sociotécnicos que promovam a defesa e promoção de direitos.

Objetivos Específicos

  • Promover a co-produção de conhecimentos junto aos atores do território;
  • Desenvolver, experimentar e sistematizar metodologias e designs de laboratórios de inovação social (laboratórios cidadãos, laboratórios de prototipado);
  • Promover a formação de um coletivo de extensão e pesquisa;
  • Promover a articulação em rede dos atores do território;
  • Experimentar e desenvolver arranjos sociotécnicos alternativos;
  • Documentar e visibilizar os conhecimentos produzidos e os processos realizados.

ATUALIZAÇÃO:

Nos primeiros meses de 2020, o Brasil e o mundo foram acometidos pela pandemia do novo coronavírus. A intrusão viral fez surgir impulsos múltiplos: negação da ciência, criação de falsos dualismos entre manutenção da vida e economia, vigilância corporativa e entre pares, cuidado coletivo, discussão sobre papel do estado, solidariedade, desejos de explicação e temor foram apenas alguns dos sentimentos, discursos e práticas que emergiram, e seguem vivos, nesse período.

Habitar o acontecimento covid-19 foi a vontade que motivou a convocação da Zona de Contágio, um laboratório situado, de prática coletiva de uma ciência do risco, espaço de convergência de saberes e atores sociais diversos, que deseja mobilizar uma inteligência coletiva alternativa à vigilância e ao controle. Portanto, durante a Pandemia direcionamos as atividades desse projeto para o Laboratório Zona de Contágio.